Os esquemas, os beneficiários e a dúvidas no governo de JLO em Angola

Num artigo do Diário de Notícias, datado de hoje, 2 de Dezembro de 2024, sobre a visita do Presidente Biden a Angola, a propósito do importantíssimo Corredor do Lobito, foi relembrado, que a parceria para a gestão do Porto do Lobito, foi concedida ao consórcio formado pelas empresas MOTA-ENGIL/TRAFIGURA/ VECTURIS.

A VECTURIS, é uma empresa portuguesa com 1/3 de capital chinês.

No mesmo artigo, é também recordado, que a TRAFIGURA está no meio de um escândalo internacional, por ter sido acusada por um Procurador Suíço, “de corromper um Administrador da SONANGOL “. Aliás, depreende-se que foi um excelente negócio para a TRAFIGURA, que passou a embolsar cerca de 2 (dois) bilhões de dólares/ano com a exportação de derivados de petróleo (comprado a Angola em rama por ajuste Director), via SONANGOL .

E quem é acionista da TRAFIGURA?

– Nada mais nada menos, do que o General Leopoldino do Nascimento ” Dino ” do Grupo de Manuel Vicente. Segundo o Finantial Times e o Expresso de 28 de Setembro de 2023, Dini reduziu para 5% as suas ações na TRAFIGURA, depois de ” vender “10% do seu total, por 390 milhões de dólares. Desconhecemos para onde foi tanto dinheiro e seria bom adivinhar, de onde saiu o investimento inicial.

Teria havido um acordo confidencial?

O mesmo artigo referia também, que um ano antes, a TRAFIGURA fora acusada pela Procuradoria da República Federativa do Brasil, no caso de corrupção conhecido ” Lava Jato “. Da mesma forma, a TRAFIGURA viu o seu nome envolvido num escândalo na Costa do Marfim.

Entretanto, o início da parceria comercial com os Estados Unidos, com financiamentos do EXIMBANK, através de consórcio bancário ( UE / Africa -BAD ) , foi iniciado pela assinatura de um protocolo , para a implementação do projecto de 500 megawatts de energia , a executar , pasmem-se , pela empresa OMATAPALO . Esse projecto, apoiado pelo Ministério das Finanças de Angola, foi intitulado pelo EXIMBAN, como o ” Negócio do Ano “, em Outubro de 2023. Não poderia ser de outra forma saudado, o excelente resultado em primeiro lugar, de mais postos de trabalho para os americanos e encaixe do pagamento de altas taxas de juros (há diferenças abismais entre as taxas de juro, de acordo com o continente e pais) e secundariamente, por postos de trabalho para os angolanos futuramente.

Como é referido em inúmeros Decretos Presidenciais, a OMATAPALO, sociedade hoje internacional e, segundo o Argola 24 Horas, de 28/1/2023, para acelerar o seu empoderamento ” A OMATAPALO já encaixotou mais 2,5 bilhões de dólares só com as adjudicações  directas “. Esta sociedade tem como acionista maioritário, o Sr. Luís Nunes, que para além de ter sido o então Governador da província de Benguela, (onde se situa o porto de Lobito), governa a província de Luanda. O mesmo é ainda membro do BP e do CC do MPLA, desconhecendo-se a origem das garantias reais iniciais apresentadas, para alavancar os seus negócios.

A esse respeito, estranhamos um facto. No decorrer  da Cimeira de Líderes US/ África, promovido pelo Presidente Biden de 13 a 15 de Dezembro de 2022, no  primeiro encontro com os empresários e sociedade civil ( de extrema importância nos EUA ), após a apresentação do Presidente João Lourenço ‘a Cimeira, ao ser saudado pelo único angolano fora da sua delegação, convidado pelo Presidente Biden ao evento, a única frase que se lhe ocorreu no momento, foi perguntar, se teria vindo com o representante da empresa americana, que assinou o acordo com a OMATAPALO .

Tal pergunta, trouxe-me ao pensamento de imediato, a possibilidade de haver a preocupação ao mais alto nível, de não se interpor nenhum possível obstáculo à parceria monopolista, (por concurso limitado, ou por ajuste directo) da OMATAPALO. O meu pensamento concretizou-se.

O curioso, é que à semelhança do Grupo dos DTT liderado por Manuel Vicente, o brasileiro de origem nipônica Vladimir Dondo, passou também a ser sócio da Mota-Engil, por aquisição de 29% das ações, pertencentes ao Banco Millennium Atlântico, de acordo com um artigo de Celso Filipe, no Jornal de Negócios, de 20 de Março de 2024. Todavia, a maioria das acções do referido banco, são igualmente do Grupo de Manuel Vicente (incluindo Carlos Silva, Dino e Kopelipa) lhe foi alavancado com o dinheiro da SONANGOL, enquanto o primeiro era o PCA.

Minoro Dondo, entrou em Angola de mãos a abanar, grudando-se a altas patentes da Presidência da República, (não saíram todos), passou a bilionário neste país, segundo notícias da mídia brasileira, que o referiu como sendo prófugo da justiça brasileira.

Num país onde se propala a luta contra a corrupção, o ex. Vice Presidente de Angola e ex Presidente da Sonangol Manuel Vicente, é o angolano até agora mais protegido pelo Estado angolano, apoiado pelo anterior Executivo português. Será porque se MV abrir a boca, o MPLA correria o risco de implodir e todos os multimilionários nascidos sem fortuna, passariam a ser perseguidos pela INTERPOL?

Poderiam pelo menos, aplicar-lhe um regime algo similar ao General Dino, que sempre que foi necessário ou útil, viajou para o exterior sem qualquer impedimento. A cadeia só teve até a presente data (3) prisioneiros efetivos, nomeadamente, Zeno doa Santos, Augusto Tomás e São Vicente e tem uma única cidadã perseguida pela Interpol, a empresária Isabel dos Santos. Para provável simulação, foram buscar Manuel Cosme a Lisboa, ‘a ” boleia ” de jacto privado, para depois o deixarem passear-se por onde lhe apetecer.

Para que não restem dúvidas, relativamente à ” ajuda ” de Angola ao sector privado português, em tempos muito difíceis pare esse país, (onde os DTT angolanos iniciaram a sangria de capitais), referindo-se ao Banco Millennium, associado no presente ao Banco Atlântico, o Jornal de Notícias, na sua edição de 25 de Dezembro de 2023, escreveu:

–  ” A petrolífera angolana assume ter existido em 2007 um mandato governamental para se tornar acionista do banco português e lamenta as perdas que isso provocou “.

O Millennium Atlântico, é mesmo banco, a quem Minoro Dondo, velho amigo do Grupo DTT, (negócios que incluíam importação e compra de fármacos, prestação de consultoria a instituições financeiras do Estado, etc), veio agora adquirir ” as supracitadas ações do Mota/Engil).

Em Portugal, a partir da Lei no. 16/2017, os bancos já ‘são obrigados a identificar acionistas e beneficiários.  Em Angola, possivelmente, pode depender de quem são os verdadeiros donos.

Já dizia o velho ditado “uma mão lava a outra e com as duas lava-se a cara…).

Texto: Maria Luísa Abrantes

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