A carta para o amigo

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Não sou poeta, apenas um escrevente.

Se a arte me aperta, eu liberto os meus pensamentos.

Gosto de escrever para o Minguito, já escrevi para o Filipe e para o Zeca, mas esta, esta carta é para ti meu amigo.

Chegamos aos 50 anos de independência do país, e é para ti que me direciono na qualidade de um bom amigo. Sei que és forte, mas com a mão, nunca ninguém conseguiu travar o vento.

Cansado de ti deambula o tempo. A fome é demais. Esgravatando a terra para sobreviver anda o povo.

A miséria e desesperança é tanta, que parte daquele povoado, hoje sente saudades do colono. Tu que nasceste e crescente no tempo da outra senhora, nem disso sentes vergonha.

Independência não é ciência, na filosofia do jogo político é preciso que se tenha alguma decência.

Por falta de bom senso, a geopolítica anda mergulhada num cãos fervoroso. Quem diria. Promessas feitas, discursos opulentes, líderes endeusados, no pulso, caro é o relógio, nem o crocodilo foi poupado, sua pele virou milionário sapato. Já nem sei se és de esquerda ou de direita. Todo gatuno com o seu igual.

 

Ao lado de ti a insegurança, putaria, delinquência e atropelos aos direitos humanos. Para maquiares a tua cumplicidade, perdoaste alguns, coitado do Carlos.

O Alberto reconhece a tua virilidade africana, mas lamenta a tua pobre mentalidade que te torna num vadio pelos corredores do banco mundial, fundo monetário e outros, sempre a mendigares por uns trocos que condicionam o futuro dos teus netos e sobrinhos.

Caro amigo, já não tenho esperança em ti. Não sei se ainda tomas uns copos como no passado.

Aquele que atinge o topo sem mérito, carrega na alma o peso da sua consciência, que o persegue dia a dia num silêncio barulhento.

A vaidade desvirtua a tua visão, tens medo até da tua sombra, és escravo da tua riqueza, um ambicioso com baixas notas. Que jornal. Fazes do ambiente o ministério da mixa para toda negociata.

A internet é um mundo que se parece infinito. O jornalista agora é teu militante que para sobreviver, alimenta a ética com uma matéria que pelo povo já foi censurada. Caro amigo. Tudo isto não é um mito. Para ti há menos um voto.

A Guiné é uma adulta com um igual a ti. Moçambique também não tem culpa. Ver para crer já não é com São Tomé. Portugal deixou de ser o exemplo, pois é lá onde todos vão regurgitar o que delapidam do erário. Viva a miséria, abaixo salário.

Cantas o hino da independência, mas continuas tão dependente da metrópole como um cego da bengala. Já te esqueceste de quem te ajudou a seres livre?

Adeus, querido, amigo. Mando-te esta carta a partir do Dubai. Sei que vives espairecendo a pobreza gastando na avenida da liberdade tudo aquilo que nunca herdaste. Estimado amigo, é desta forma que escondes a pobreza da tua sanzala? Ainda vais a tempo. Promove o perdão entre nós. Eleve a unidade nacional. Em 1993, Mandela e De Klerk ganharam o nobel da paz. Queres ser arquiteto ou historiador? Qual é o teu legado?

 

Por Victor Hugo Mendes

 

 

 

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