O recente episódio protagonizado pelo apresentador Ednardo Soares e pela comunicadora Henesse Cacoma no programa Conexão, da TV Girassol, reacendeu uma discussão importante sobre os critérios de contratação de profissionais de televisão em Angola. A situação, aparentemente banal, revelou-se emblemática ao expor a falta de sintonia entre os dois, quando Ednardo cometeu um erro simples ao mencionar a data de Luanda, e Henesse, com a experiência que lhe confere anos de trabalho em rádio e televisão, não hesitou em corrigi-lo ao vivo. A repercussão foi imediata e trouxe à tona uma reflexão fundamental sobre a qualificação na comunicação em Angola, particularmente sobre a dinâmica que as televisões têm adoptado ao contratar influenciadores digitais sem uma formação técnica específica para a área.
Ednardo Soares, com o seu enorme destaque no TikTok e Instagram, tornou-se um fenómeno nas redes sociais, conquistando uma legião de seguidores e tornando-se, à primeira vista, uma aposta interessante para a TV Girassol. No entanto, o que muitos talvez não tenham considerado foi a diferença substancial entre a comunicação digital e a comunicação televisiva. Ser um influenciador digital, com grande capacidade de interagir com um público online, não implica, por si só, que alguém esteja preparado para enfrentar o desafio de conduzir um programa de televisão, onde a rigidez, o tempo e a precisão das informações são cruciais.
Henesse Cacoma, por outro lado, é uma profissional com uma carreira sólida na rádio e na televisão. A sua experiência na condução de programas e na adaptação a diversos contextos de comunicação fez toda a diferença no episódio que, para muitos, escancarou a fragilidade da aposta da TV Girassol. A sua intervenção, corrigindo o erro de Ednardo, foi um reflexo natural da sua prática e da sua formação. Não se trata apenas de conhecimento, mas de uma postura profissional que, por vezes, falta a quem chega ao meio televisivo sem a preparação adequada.
Este caso expõe uma realidade crescente em Angola e em outros países, onde a popularidade nas redes sociais tem sido vista como um critério suficiente para integrar o mercado de trabalho da comunicação. As televisões, em busca de audiência fácil, parecem apostar em influenciadores digitais que, embora dominem as plataformas online, muitas vezes não têm as competências necessárias para desempenharem funções como apresentadores ou jornalistas.
É evidente que, numa era de convergência mediática, a popularidade nas redes sociais pode ser uma ferramenta poderosa. Contudo, não podemos esquecer que a televisão, como qualquer outro meio de comunicação, exige habilidades específicas que vão além do número de seguidores ou da capacidade de criar conteúdos virais. O erro cometido por Ednardo no programa Conexão não foi um incidente isolado, mas sim um reflexo de uma tendência mais ampla que coloca a busca por audiência à frente da competência profissional.
A verdadeira questão que surge aqui é até que ponto as emissoras de televisão estão a valorizar a formação e a experiência dos seus apresentadores. A escolha de Ednardo, um influenciador digital sem uma formação sólida na área, pode ter sido uma tentativa de modernizar a programação e atrair um público mais jovem, mas, ao mesmo tempo, expôs as limitações de apostar exclusivamente na popularidade virtual. A televisão não pode, nem deve, ser apenas uma vitrine para rostos bonitos ou famosos nas redes sociais; ela exige profissionais capazes de comunicar com clareza, autoridade e, acima de tudo, com competência.
Este episódio serve como um alerta para a TV Girassol e outras emissoras em Angola que pretendem seguir uma fórmula semelhante. Se, por um lado, a presença nas redes sociais pode ser uma vantagem competitiva, por outro, a falta de formação técnica e de experiência em televisão pode prejudicar a qualidade do conteúdo e a imagem da emissora. As audiências, embora volúveis, não devem ser o único critério de contratação, especialmente quando estamos a falar de comunicação com um público vasto e diversificado, que exige mais do que “likes” e “shares”.
Em última análise, o caso entre Ednardo Soares e Henesse Cacoma expõe a necessidade de um equilíbrio entre popularidade e formação profissional na televisão angolana. A aposta em influenciadores digitais não deve ser feita à custa da qualidade e da competência. A experiência de profissionais como Henesse deve ser valorizada, não apenas como uma qualidade a ser vista com admiração, mas também como um exemplo a seguir para quem deseja entrar no mundo da comunicação televisiva.
A televisão angolana precisa urgentemente reflectir sobre como conciliar as exigências do mercado digital com a necessidade de manter elevados padrões de qualidade e profissionalismo, algo que, infelizmente, o incidente em questão demonstrou estar em falta.
Por: Hélder Lourenço