Augusto Tomás: Um caso de audácia e resiliência!

augusto da silva tomas em liberdade condicional quatro anos depois 1672255193

Perante as situações-limite da vida, as pessoas tomam atitudes diversas. Quem já sofreu situações de injustiça e viu o seu bom nome atolado na lama repugnante e pestilenta do crime, pode alimentar sentimentos de vingança, ressentimento e até mesmo ódio contra quem assim procedeu. Mas há também aqueles que, embora magoados e desiludidos, prefiram não dar vazão a sentimentos ruins e lupinos. São aquelas pessoas com capacidade de se reinventarem depois da tempestade e dar um rumo digno à sua vida. Não investem o seu tempo em lamentações ou queixumes da sua desventura, mas procuram dar a volta, pois tudo na vida tem seu conserto. Só a morte não tem conserto. E ainda bem!…

Pretendo rabiscar estas parcas linhas, sem floreados, em homenagem a uma pessoa que passou por agruras inesperadas, mas não permitiu que a sua dignidade fosse chamuscada: Augusto da Silva Tomás! Passados dois anos desde que foi devolvido à liberdade, na sequência de um processo judicial trivial, neste dia 6 de Junho, fez a sua prova pública de doutoramento em Economia pela Universidade Agostinho Neto. É com este acto, tão nobre e tão elevado, que Augusto Tomás retoma a sua vida pública. Para aqui chegar – quem sabe o que é uma tese de doutoramento entenderá mais facilmente – o ora laureado teve audácia e foco, trabalhando duramente: Fortuna audaces juvat (a sorte acompanha os audazes), já diziam os latinos. Não é possível alvitrar que alguém sem audácia e sem foco consiga tal proeza depois de passar por essa experiência tão deprimente como o cárcere.

Curiosamente trago comigo também a marca do cárcere e, quiçá, por esta razão, nutro deferência e empatia à figura de Augusto Tomás. Acontece que ele também acaba de trilhar o caminho que trilhei: dois anos depois da minha experiência do cárcere, lancei-me à aventura do meu segundo doutoramento, desta feita em Ciência Política e Relações Internacionais. Foi para mim um grande exercício de catarse (purificação interior), porque fui curando as mágoas e todos os ressentimentos pelas humilhações que me foram infringidas. Creio que Augusto Tomás terá passado pela mesma mística de purificação interior. Por isso, o título académico que acaba de conquistar, com brio, não é apenas uma proeza científica, mas é também uma cura.

É um mérito muito pessoal, porque foi o caminho que escolheu trilhar, deixando para trás a experiência dos grilhões. Nelson Mandela dizia que ao sair da prisão, se ele tivesse carregado consigo as mágoas e ressentimentos, teria sido ainda um homem encarcerado. Nas nossas conversas, uma das palavras que Augusto Tomás me tem repetido amiúde é exactamente a palavra PERDÃO! Não é algo que ele diz de forma fortuita, mas depreende-se que lhe vem mesmo da alma por força da espiritualidade cristã que muito cultiva. Na sua obra “A Pedagogia dos Oprimidos”, Paulo Freire defende que não basta libertar os oprimidos; é preciso também libertar os opressores. A melhor vingança que podemos investir contra os nossos algozes é a sua transformação, não necessariamente a sua destruição. Esse parece ser o caminho que está a trilhar, fazendo jus também ao seu nome que em latim “augustus” significava majestoso, sublime, nobre. Ora, neste caso, como dizem os franceses “noblesse oblige”! PARABÉNS, DOUTOR AUGUSTO DA SILVA TOMÁS!

Raul Tati

 

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