Terá João Lourenço do MPLA, coragem, força e punho para travar os que o aprisionam?

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Por: Joaquim Nafoia

Ao revisitar o discurso de João Manuel Gonçalves Lourenço, proferido no primeiro acto de investidura como Presidente da República e Chefe de Estado angolano, em 2017, pode-se concluir que na globalidade foi interessante, vibrante, contagiante, excelente e promissor no que diz respeito à consolidação do Estado Democrático e de Direito, ao crescimento e desenvolvimento económico, bem como em relação à melhoria do estado social e bem-estar das populações.

No entanto, volvidos oito anos de mandato como Presidente da República e Chefe de Estado, a sociedade já se questiona acerca das boas intenções subjacentes nas palavras proferidas por João Lourenço no Memorial Dr. António Agostinho Neto, no dia 26 de Setembro de 2017. A razão do questionamento consiste nos actos contraditórios praticados no seu consulado. E aqui chegados, urge indagar o seguinte:

 

  1. a) Sua Excelência Presidente da República e Chefe de Estado angolano, terá sido sequestrado por um grupo sectário do regime que dirige o País contra a sua própria convicção e vontade?

 

  1. b) João Lourenço não terá visto e se apercebido das acções maquiavélicas deste grupo sectário do regime que assaltou e sequestrou quase todas as instituições relevantes do Estado?

 

  1. c) João Lourenço não tinha noção de que o fim último do sequestro das instituições do Estado provocaria a crispação política, instabilidade e caos na sociedade angolana?

 

  1. d) Quem estará, de facto e de jure, com o poder que tornou refém o Presidente da República ao ponto de ser asfixiado, manipulado e desviado dos princípios da Constituição e das leis da República de Angola?

 

  1. e) Quem é que pensa, estrutura e fabrica conteúdos falsos apelidados de “informação estratégica” levados à mesa de Sua Excelência Presidente da República com o intuído de o manipular e estilhaçar a sociedade angolana?

  1. f) Sobre a segurança nacional do País, organização e funcionamento dos partidos políticos na oposição. Que tipo de informação o grupo sectário do regime tem levado à mesa do Presidente da República, ameaçando e pondo em risco a integridade territorial do país?

 

Esta reflexão deriva do encontro realizado no dia 13 de Maio, no Palácio Presidencial da Cidade Alta em Luanda, entre João Manuel Gonçalves Lourenço, Presidente da República, e Adalberto Costa Júnior, Líder da Oposição e Presidente da UNITA.

Não há dúvidas que ante as provocações e humilhações permanentes do regime do MPLA — que tortura, sequestra e mata o povo, rouba o erário público, perpetra fraudes eleitorais e golpes constitucionais –, a UNITA surge evidentemente como a esperança dos Angolanos, pois tem sido o garante e baluarte do mínimo de estabilidade política que há no País desde que terminou o conflito armado em 2002. Aliás, foi nesta senda que, cônscio da responsabilidade e sentido de estado que carrega, perante o ambiente político totalmente crispado pelo regime do MPLA, uma vez mais o Presidente Adalberto Costa Júnior, em nome da UNITA solicitou um diálogo aberto, franco e frontal com João Lourenço na qualidade de Presidente da República. Sim, foi o Presidente da UNITA quem, pacientemente, voltou a solicitar o encontro, o qual, felizmente, se concretizou nesta terça-feira, 13 de Maio.

Em duas horas de diálogo, o encontro revelou-se sério, transparente e muito forte. O Presidente da UNITA levou, na sua agenda, os problemas reais do país. Em princípio e até prova em contrário, do lado do Presidente da República houve receptividade para as informações acerca do País real levadas pelo seu interlocutor – afinal, diferentes e nos antípodas daquelas que o grupo sectário lhe tem colocado à mesa.

João Lourenço manifestou o interesse de colaborar e trabalhar para a distensão e normalização do ambiente político, mormente em relação ao bom funcionamento das instituições do Estado.

Entretanto e como diz um adágio popular: “gato escaldado até da água fria tem medo”. Daí que nos interroguemos:

1.⁠ ⁠Terá João Manuel Gonçalves Lourenço coragem de romper a cerca em que foi colocado pelo grupo de marginais que o rodeia e, provavelmente, também o controla?

2.⁠ ⁠Será João Manuel Gonçalves Lourenço capaz de sacrificar os interesses do grupo fora-da-lei (de que faz parte), a favor da estabilidade política e desenvolvimento do País?

3.⁠ ⁠Como irá João Lourenço proceder para desfazer-se da teia dessa máfia que, pelos vistos, o controla e comanda as instituições do Estado?

Definitivamente, hoje mais do que nunca, o Presidente da República deve estar atento às pressões calculistas deste verdadeiro Eixo do Mal do regime. Este grupo é formado por indivíduos que apenas vivem e sobrevivem à base da intriga, da calunia, da confusão, da mentira e da corrupção. Eles estão distribuídos e entranhados em áreas diversas das instituições do Estado.

 

Na verdade, esse grupo nunca deveria merecer espaço de manobra e de mediatização. Um dos seus objectivos tem sido sacar constantemente dinheiro do erário público com as mesmas justificações políticas enviesadas de sempre, fabricadas vezes sem conta, provocando assim enorme sangria aos cofres do Estado.

É a partir deste grupo que a pirâmide da governação se inverteu, fazendo com que os poderes instituídos deixassem de agir na base da Constituição e das leis, e já não sirvam, judiciosamente, o cidadão, provocando pelo contrário efeitos perversos na vida das pessoas, famílias e empresas.

Deste modo, a iniciativa de diálogo encetada pela UNITA, por via do seu Presidente Adalberto Costa Júnior, visa na realidade alertar e despertar o próprio Presidente da República, resgatando a sua imagem aprisionada do Chefe de Estado angolano. E despertar igualmente os poderes instituídos e a sociedade no geral, trazendo assim o país para os carris da democracia assente na Constituição e nas leis da República de Angola.

A UNITA e o seu Presidente Adalberto Costa Júnior cumpriram, pois, a sua parte como sempre.  Por conseguinte, a bola está do lado de João Lourenço e o seu regime. Terá ele força e punho para inverter o quadro, colocando na linha os marginais que o controlam?

Pessoalmente tenho dúvidas. Porquanto, a solução passa irremediavelmente por uma luta feroz e sem tréguas contra os “fora-da-lei” que controlam o País. Desta forma, a UNITA deve preparar o povo para manifestações ininterruptas até o regime ceder.

Luanda, 15 de Maio de 2025. –

(*) Deputado

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